terça-feira, 13 de fevereiro de 2018


Meu amor,

Não tenho palavras para te poder dizer o que senti quando te reencontrei, quando os teus olhos pousaram de novo nos meus. Foi uma magia que não findou. Um torpor apoderou-se de mim e enrubesci. Tu, malandro, sorriste.
Imaginei, mil vezes, o momento de te mostrar como tudo era tão irreal, depois do afastamento a que nos obrigámos, porque as nossas vidas eram paralelas, mas intocáveis.
Naquele momento a tua voz travou e regressaste a um passado sonhado, mas não realizado.
Vi-te tombar, sem conseguires balbuciar uma única palavra. O meu coração parou, momentaneamente, com o teu.
Agora olhas para mim, dessa cama a que te lançaram como se fosses um fardo de palha, e sorris. Onde está a tua força? Aquela que me davas, quando desabafava contigo a desgraça em que a minha vida se tornara?
Quero voltar a abraçar-te. Quero que vivas, por mim, pelo nosso amor. A tua luta é a minha luta. Sei que vais voltar à realidade, à nossa realidade, porque nos amamos.
Lembras-te daqueles belos pôr-do-sol que vimos, sempre que passeávamos pelo passadiço? As nossas mãos, carentes e quentes, colavam-se como se fossem uma só.
Desejo reviver esses momentos contigo e, agora que os nossos impedimentos terminaram, não te vais deixar abater. Estou e estarei sempre a teu lado.
Tudo isto deveria dizer-te ao ouvido, que gosto de mordiscar nos momentos da nossa maior intimidade. No entanto, é mais fácil escrever-te porque, neste momento, é menos constrangedor. A tua vida está presa por um fio e sabes disso, mas só tu podes fazer com que esse fio não quebre. Ergue-te!
Alguém (não eu), te irá ler esta carta. Estou a ver-te sorrir e as máquinas, a que te encontras ligado, dispararam velozmente.
Sei que és um vencedor. Sempre o foste.

AR.
Natália Vale
2018.01.30